segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

10, 9, 8...

10, 9, 8...

Olhos cerrados - perdido 
Na escuridão - suspenso
O pedido - entre mundos de tempo - espera

F. 
BULA:

"É preciso que nos encontremos diante do amor como as árvores fêmeas cuja raiz é a mesma e se perde na terra profana.

É preciso... a tristeza está no fundo de todos os sentimentos como a lágrima no fundo de todos os olhos.

Sejamos graves e prodigiosos, ó minha amada, e sejamos também irmãos e amigos
É preciso que levemos diante de nós o retrato das nossas almas como se fôssemos a um tempo a Verônica e o Crucificado.

Eu sou o eterno homem e hoje que a dor fecunda o tempo eu sinto mais que nunca a vontade de fechar os braços sobre a minha miséria

Fiquemos como duas crianças pensativas sentadas numa escada - todos serão os peregrinos e apenas nós os contemplados."

Poema De Ano-Novo
Vinicius De Moraes

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Joie De Vivre

Joie De Vivre

Mon joie de vivre
Livre - por acidente
Deixou o presente e vive - joia p'ra vida

F.
BULA:
Presente

1 O tempo presente; o tempo atual. 

2 Diz-se da pessoa ou coisa que está num dado momento diante dos olhos.

3 Brinde, dádiva, mimo, oferenda, oferta.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Conte De Fées

Conte De Fées
(a Guga)

Falsa donzela - fato
Por um prato piranhou um trato
Deu rasteira em cobra - virou príncipe em sapo

F.
BULA:


Uma homenagem do amigo fiel, Guga, detentor de uma sabedoria imensurável sobre a arte da piranhagemSe todos tivessem uma amigo assim a piranhagem estaria com os seus dias contados.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Tristesse Contemporaine

Tristesse Contemporaine

Triste é a lonjura dura e fria
Triz que não finda e tarda a trilha
Trinca a memória da tez outrora minha

F.
BULA:
Tristesse
Maria Rita

Como você pode pedir
Pra eu falar do nosso amor
Que foi tão forte e ainda é
Mas cada um se foi

Quanta saudade brilha em mim
Se cada sonho é seu
Virou história em sua vida
Mas prá mim não morreu

Lembra, lembra, lembra, cada instante que passou
De cada perigo, da audácia do temor
Que sobrevivemos que cobrimos de emoção
Volta a pensar então

Sinto, penso, espero, fico tenso toda vez
Que nos encontramos, nos olhamos sem viver
Pára de fingir que não sou parte do seu mundo
Volta a pensar então

sábado, 22 de dezembro de 2012

O Amor É Instagrã

O Amor É Instagrã
(à Zeza)

Coração estragado 
#partiu! pro instagrã
Subiu - ao ar - vazio #vidaputa!

F.
BULA:
O Amor É Instagrã

Título para um álbum de fotos. "Instagrã" e "#vidaputa" são termos cunhados por Zeza. Adoro o senso de humor dessa moça.

Ps: deve ser lido com o sotaque de Soterópolis - o de verdade, não o global.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O Mundo - Que Se Acabe!

O Mundo - Que Se Acabe!

Um beijo apocalipse ela jaz
10 mil megatons³ e 'inda mais
Bombardeia meus lábios - ah! que me exploda!

F.
 BULA:
Megaton

Unidade que serve para avaliar o poder de um projétil nuclear comparando-se a energia produzida pela explosão desse projétil com a energia produzida pela explosão de um milhão de toneladas de trinitrotolueno [TNT]. A quantidade necessária para varrer a vida na terra é de aproximadamente 780 megatons

10 mil megatons³ = 10 mil x 10 mil x 10 mil = 1 milhão de megatons

Ela tem poder de fogo de sobra.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Ao Poeta

Ao Poeta

Nem tudo é dor ou tormenta...
Isso a gente inventa!
Há coisas leves - como balinhas - beijinhos de hortelã

F.
BULA:

É fácil escrever sobre dor. É fácil usar da catarse para agarrar o leitor. Difícil mesmo é desenhar um sorriso doce no coração alheio.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Mus[ic]a Das [Es]feras

Mus[ic]a Das [Es]feras

Fera dominante... 
Em círculos tenciono resolver
Ah! musa fascinante - o último repouso em ser

F.
BULA:
Mus[ic]a das [es]feras

Poetrix musical. Cada verso faz alusão à termos oriundos da teoria musical, e a poesia como um todo à Música das Esferas.

"Fera dominante..."
Dominante: V grau da escala musical - como acorde tem a função de tensionar, conduzir em direção a resolução.

"Em círculos"
Círculo de quintas:

"...tenciono resolver"
Novamente o jogo de tensão e resolução entre Dominante e Tônica.

"Ah! musa fascinante"
Musas - Eram nove, filhas de Zeus. A palavra "música" tem origem no grego, "musiké téchne", que significa "a arte das musas".

"o último repouso em ser"
É onde finalmente a Dominante encontra a sua Tônica e por fim repousa, suspende-se a tensão.

"Música das Esferas"
Assunto que começa em Pitágoras, passa por Platão, Sócrates, Kepler e tá ai até os dias de hoje. Aqui vão algumas sugestões de leitura:




terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Ser[r]á ou não ser[r]á?

Ser[r]á ou não ser[r]á?

Cerrada em si
Serrou-me em mil
[SC]errados - cada um pr'um lado

F.
BULA:

[...]

Em nosso espírito sofrer pedras e flechas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provações
E em luta pôr-lhes fim? 
Morrer.. dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia
E as mil pelejas naturais - herança do homem:
Morrer para dormir... é uma consumação
Que bem merece e desejamos com fervor.
Dormir... Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:
Pois quando livres do tumulto da existência,
No repouso da morte o sonho que tenhamos
Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita
Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.
Quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo,
O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso,
Toda a lancinação do mal-prezado amor,
A insolência oficial, as dilações da lei,
Os doestos que dos nulos têm de suportar
O mérito paciente, quem o sofreria,
Quando alcançasse a mais perfeita quitação
Com a ponta de um punhal? 
Quem levaria fardos,
Gemendo e suando sob a vida fatigante,
Se o receio de alguma coisa após a morte,
Essa região desconhecida cujas raias
Jamais viajante algum atravessou de volta
Não nos pusesse a voar para outros, não sabidos?
O pensamento assim nos acovarda, e assim
É que se cobre a tez normal da decisão
Com o tom pálido e enfermo da melancolia;
E desde que nos prendam tais cogitações,
Empresas de alto escopo e que bem alto planam
Desviam-se de rumo e cessam até mesmo
De se chamar ação.
[...]

Hamlet, III Ato, Cena I
William Shakespeare
Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Motto

Motto
(à Rogério Skylab)

Intensa - terremotto!
Mottor: amor-próprio...
Motto-serra a alma-gêmea - parte-a em duas p’ra ser inteira

F.
BULA:
Rogério Skylab
Moto-serra

Tinha 25 anos de amores e sonhos,
Você era pra mim o meu drops de anis, alecrim,
Era meu rabo de saia, minha doce amada,
linda, linda, era tudo que eu queria,
Rosa e jasmim.

Mas o tempo foi passando,
o tempo é louco, o tempo é todo tempo,
o tempo come o tempo, chegamos ao fim.
Te vi nos braços de um outro, revirei na cama,
passei a noite em claro,
mas no fim das contas, eu descobri:

Motto-serra, motto-serra,
Era a peça que faltava no meu quarto de dormir,
Motto-serra, motto-serra,
Hoje entendo porque tu olhavas tanto pro jardim.

Fui serrando os seus pezinhos que eram para mim
a coisa mais bonita que eu nunca esqueci, prossegui.
Serrei suas duas mãos que eram diamantes
E quando rezavam pareciam conchas de marfim.
Serrei suas duas pernas, os seus dois bracinhos,
Você ficou sendo a Vênus de Millus do meu jardim.
Te serrei por dentro e fora, te serrei no meio,
Restou um toquinho que eu serrei também,

Serrei feliz.

Motto-serra, motto-serra,
Os pedaços manchados de sangue plantei no jardim,
Motto-serra, motto-serra,
Germinaram daqueles pedaços rosas e jasmins.

domingo, 16 de dezembro de 2012

[TPM]

[TPM]

[T]NT! Tem pra mim tem
[P]’ra ninguém...
[M]ulher-bomba loba uiva: hoje amor nem vem!

F. 
BULA:
"Hoje [o] amor nem vem... "
"Hoje, amor, nem vem..."
"Hoje, amor, nem... vem!"
???

A vírgula na segunda parte do último verso é facultativa
Se você não entende uma TPM nem ouse usá-la. Se você diz que entende você provavelmente está redondamente enganado. Melhor deixar sem. 

...e a "bomba" é de chocolate.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Fantasmas Fibonacci - Ousadias (5)

Fantasmas Fibonacci

Fantasma I

A
Casa
Vazia

Nem cheiro nem luz
Do passado - alguns vestígios:
A mobília fantasma coberta de lençóis

Reverbera os ecos de um divórcio mal assombrado - separação sem bens

Fantasma II

E
Cada
Um se foi

Seguiram rumo
Ao solitário destino:
De sofá em sofá até achar novo ninho

E os pés solitários - almas penadas - na madruga sem ter um mimo

Fantasma III

Mas
Grata
Surpresa

Aguardava-lhes:
Navegando, ambos errantes
Encontraram-se enfim - ao acaso - no mesmo Porto

"Assombração é viver sem teu corpo" - disseram... deu casório outra vez

F.
BULA:
Ousadias (5)
Fantasmas Fibonacci

Fantasma: alma penada, espírito desencarnado, assombração - uma metáfora para algo que não está presente, mas está - ainda ronda.

Fibonacci: Odeio ficar me repetindo, já falei do danado aqui:

Um esquema parecido com a Ousadias (2) - Loja De Departamentoscom a diferença que desta vez os versos não são livres - tem um número fixo de sílabas. A estrutura silábica dos versos dessa Ousadia segue a Sequência Fibonacci:

A = 1
Casa = 2
Vazia... = 3

Nem cheiro nem luz = 5
Do passado - alguns vestígios = 8
A mobília fantasma coberta de lençóis = 13

Reverbera os ecos de um divórcio mal assombrado - separação sem bens = 21

Enfim, mais uma maluquice formal.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ganhar o pão – Metalinguagens (3)

Ganhar o pão
(mais uma à Quintana)

Passarinho jornalista...
"Da poesia não se ganha o pão"
Danado, dela não viveu - avuô!

F.
BULA:
"Não faça disso [a poesia] uma profissão."
...
Foi um bom conselho, D.

Mais do Passarinho jornalista:
http://pilulapoetrix.blogspot.com.br/2012/09/simples-voejo_15.html

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Antídoto - Metalinguagens (2)

Antídoto

Escrever sobre a dita: antídoto
Veneno lento... nada cura
'Inda mata a maldita

F.
BULA:

“Todas as substâncias são tóxicas.
A dose correta é que diferencia um veneno de um antídoto
Paracelso 
[pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, 
considerado o “Pai da Toxicologia Moderna"]

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Prostração - Metalinguagens (1)

Prostração

Pânico: prostra-se perigosamente
Pensa... pena pesada: padece
Parvo punho poeta!

F.

BULA:
"Há uma insaciável vontade de escrever,
mas falta inspiração, o que fazer?
Lutar, continuar ou perecer,
nesse mundo de ilusões padecer...
[...]
...A poesia inexistente no poeta,
é tão desconexa quanto a forma,
que busca a ilusória perfeição,

lateja em mim a dor do amor."


Arthur Melo

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

No Meu Porto

No Meu Porto
Imóvel feito a grama cor de mate Um moinho canta meus amores Silbando triste una milonga 
F.
Parque Moinhos De Vento "Parcão"Porto Alegre
BULA:Pingo À SogaVitor Ramil
"Quando penso em ti rincão queridoDeixo estirado o maneador na estacaE me recordo daquela indiada tacaE de muitas mágoas que tenho sofrido
À tardinha quando o sol se escondeVem a saudade me mudar de pastoEu a cabresto vou deixando o rastroE fico pensando sem saber aonde
Lusque-fusque, vejo o fogo no galpãoOuço a cordeona num soluçar tristonhoLonge do pago me representa um sonhoE sinto bater forte no peito o coração
Ouço o cincerro da velha égua-madrinhaQuero-quero gritando lá no baixoFico alegre quando alguém me quebra o cachoE vou ver a china linda que foi minha
De madrugada, ao romper da auroraCheio de pranto que meu peito afogaTenho vontade de rebentar a sogaE ir relinchando pela estrada afora
Lusque-fusque, vejo o fogo no galpãoOuço a cordeona num soluçar tristonhoLonge do pago me representa um sonhoE sinto bater forte no peito o coração"

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Mala Vazia

A Mala Vazia

Deserta repousa
Espera boquiaberta encher-se
De saudades e afagos infinitamente seus

F.
BULA:
"Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.

Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.

Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida,

Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.

Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim.

Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.

Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.

Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.

Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci. 

Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.

Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!

Mais vale arrumar a mala.
Fim."

Grandes São os Desertos, e Tudo é Deserto
Álvaro de Campos [heterónimo de Fernando Pessoa] in "Poemas"